a poesia vem no ato, sim, é verdade:
senta de repente à mesa
entra em campo à revelia
flui com maestria
se ensaia com esperteza.
sai de casa à procura de um namorado
do par perfeito que a lerá com um olhar
para gritar “Ei, meu poeta encantado!”.
ele lhe colocará adereços
como se adoram às musas
vírgulas, acentos e contextos
escondendo sua alma desnuda.
apresentar-lhe-á à sociedade granfina
disfarçada de princesa dançante
protegida entre pontos e rimas
como se nunca houvera sido
um solitário e perdido
corpo bruto andante.
deitada em uma folha de papel
pelos traços e braços delicados do amante
a poesia repousará, como uma estrela no céu,
o sono tranquilo de quem se vê de seu mundo
uma habitante.
A poesia não procura homens que procuram a poesia.
Homens que ouvem a vida acabam por ouvir a poesia.